quarta-feira, 30 de julho de 2008

Educação e a cultura brasileira

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A Fundação Victor Civita realizou uma pesquisa com professores de escolas públicas e detectou algumas das reivindicações dos professores: aumento do salário, melhores condições de trabalho, redução do número de alunos na sala de aula. Boa parte dos professores reclamou da baixa participação dos pais no acompanhamento dos estudos dos filhos. Isto é importante, mas há algo mais...

Vamos a algumas considerações:

Muito tem se falado do envolvimento da sociedade para melhorar a educação. O Brasil sofre de megalomania desvairada. O primeiro passo, o mais simples e necessário, é cobrar responsabilidade de governo, pais, alunos e professores.

Governo: tem que proporcionar o mínimo: professor em sala de aula, material didático, treinamento para o professor e, seria muito bom, salário razoável.

Professores: tem que ensinar, se dedicar e exigir dos alunos.

Segundo a secretária de estado da educação de SP 35% dos alunos do estado, que chegam a 4ª série (fora os evadidos), não sabem ler e escrever. A única justificativa para tal fato é que ELES NÃO TIVERAM AULA. Talvez os professores tenham virado monitores de recreação.

É preciso encarar esta difícil realidade e cobrar muito sério dos professores. Deve-se parar de considerar que todos os professores são bons, quando a cultura dentro das escolas públicas se tornou um passa tempo muito pouco pedagógico.

A educação no Brasil jamais será boa enquanto não cobrarmos responsabilidade dos professores. Os professores são sempre tratados como vítimas. Muitos não são, muitos são vitimizadores.

Na cultura brasileira existe muita dificuldade em cobrar eficiência das pessoas.

Somos o mundo dos coitadinhos, onde a culpa é sempre jogada de um para o outro e quando busca soluções se discute é o “envolvimento da sociedade”. Ou seja, algo grande, megalomaníaco que nunca se concretiza.

Fazem mais de 10 anos que atuo como voluntário ajudando escolas. Falo do que vejo e do que presencio.

Faço um desafio a quem ler estas linhas: vá a alguma escola da periferia depois das 21:30hs. Provavelmente você verá a escola vazia. No horário que era para ter aulas... nada...

Pais: deve-se incentivar a leitura e atividades educativas desde o nascimento. Nas minhas palestras com os pais explico a importância de comprar lápis, canetas, cadernos, quebra-cabeças e outros brinquedos educativos. Incentivar a leitura, o desenho. Freqüentar a biblioteca pública.

Eles possuem renda para isto? Grande parte possui. É uma questão de planejamento de investimento familiar. Uma vez fiz um cálculo com um grupo de pais: comprar material pedagógico (básico e simples) era o que eles gastavam com refrigerante, balas, bolachas, etc.

Outra forma é a compra compartilhada: junta-se 10 pais e cada um compra um livro infantil. Depois eles trocam entre si. O livro infantil é o mais barato.

Muitas vezes as bibliotecas públicas ficam vazias, sendo pouco utilizadas.

Ou seja, com o acompanhamento dos pais e o estímulo desde cedo, dificilmente teremos crianças chegando a quarta série sem saber ler e escrever.

O segundo ponto é obrigar as crianças a estudarem em casa. Elas devem, todos os dias, repassar a lição dada em sala de aula. Assim como refazer as lições dos dias anteriores, a fim de facilitar a retenção do conhecimento, desenvolver disciplina e perseverança.

Aluno: ele é o maior responsável pela própria educação. Desde pequeno deve-se explicar a importância da escola. Se ele tiver bons conteúdos e disciplina vai considerar o aprendizado agradável. Ao aluno aplica-se o mesmo que aos pais.


O lema anarquista: ninguém é inocente deve ser o lema da educação.

Se está muito ruim é porque os principais atores não estão cumprindo suas funções.


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Um comentário:

Anônimo disse...

Seria de bom tom colocar o link da reportagem..não acha?
Outra coisa, (sou professor do estado desde 2003)acho que primeiro deveriam ser oferecidas as condições..depois cobrar dos professores..cobrar sem oferecer é no mínimo transferir a responsabilidade.
O que significa "exigir dos alunos" você saberia explicar??
Concordo, ninguém é inocente, mas acho que existem muitas vítimas, conscientes e inconscientes.
Como diz Paulo Freire: "o torturado aprende a torturar sendo torturado pelo torturador".