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Queridos amigos,
nesta segunda, dia 28/08 estarei de partida para bem longe de tudo. Vou meditar, relaxar e esvaziar a mente.
dia 10 de setembro volto.
Beijos em todos.
Enquanto não volto fiquem com um "amigo" presente em muitos bons momentos de minha vida.
Ele se chama Camões e abaixo estão algumas "palavrinhas" dele.
A quem darei queixumes namorados
do meu pastor queixoso namorado:
a branda voz, suspiros magoados,
a causa por que na alma é magoado?
De quem serão seus males consolados?
Quem lhe fará devido gasalhado?
Por partes mil lançando a fantasia,
busquei na terra estrela que guiasse.
Só vós, Senhor, fermoso e excelente,
especial em graças entre a gente
meus rudos versos; em cuja companhia
a santa piadade sempre andasse,
luzente e clara, como a luz do dia,
que o rude engenho meu me alumiasse;
em vossas perfeições, grão Senhor, vejo,
cumprido inda além o meu desejo.
A vós se dêem, a quem junto se há dado
brandura, mansidão, engenho e arte,
dum esprito divino acompanhado,
dos sobre-humanos um em toda a parte.
Em vós as graças todas se hão juntado;
de vós em outras partes se reparte;
sois claro raio, sois ardente chama,
glória e louvor do tempo, asas da fama.
Enquanto aparelho um novo esprito,
e voz de cisne tal que o mundo espante,
com que de vós, senhor, em alto grito
louvores mil em toda a parte cante,
ouvi o canto agreste em tronco escrito,
entre vacas e gado petulante;
que, quando tempo for, em melhor modo
por vós me ouvirá o mundo todo.
As vãs querelas, brandas e amorosas,
sejam de vós tratadas brandamente;
verdades d'alma pouco venturosas,
saídas com suspiro vivo e ardente,
que em vossas mãos se entregam valerosas,
para despois viverem entre a gente,
chorando sempre a antiga crueldade,
e os corações moverem a piadade.
Já declinava o sol contra o Oriente,
e o mais do dia já era passado,
quando o pastor, co grave mal que sente,
por dar alívio em parte a seu cuidado,
se queixa da pastora docemente,
cuidando de ninguém ser escutado.
Eu, que o ouvi düa árvore, escrevia
as mágoas que cantou; e assi dizia:
«Ou tu do monte Píndaso és nascida,
ou mármore te pariu, fermosa e dura:
que não pode ser seja concebida
dureza tal de humana criatura;
ou és quiçais em pedra convertida,
ou tens de natureza tal ventura;
porém não fez em ti boa impressão
tomar-te só de mármore o coração.
Já esta minha voz rouca e chorosa
a gente mais remota moveria,
e se tocasse a veia lacrimosa
os tigres em Hircânia amansaria.
Se não foras cruel, quando fermosa,
meu longo suspirar te abrandaria;
mas suspirar por ti e bem querer-te
que fazem, senão mais endurecer-te?
Se deixaras vencer a crueldade
de tua tão perfeita fermosura,
um pouco viras bem minha vontade,
e viras esta fé tão limpa e pura,
porventura que houveras piadade
e tivera eu quiçais melhor ventura.
Mas nunca achei melhor tua beleza,
senão com ver-se em ti tua dureza.
Já um peito abrandara que não sente
meu duro e grave mal, segundo é forte;
se decera ao inferno fero e ardente
movera a piadade a mesma morte.
Se üa gota de água brandamente
abranda um penedo duro e forte,
como lágrimas tantas não farão
um pequeno sinal num coração?
Na testa tenho üa fonte viva d' água,
que por meus olhos tristes se derrame;
no peito está de fogo na viva frágoa,
que tudo em si converte e tudo inflama;
Amor, ao derredor, por maior mágoa,
voando, mais acende a ardente chama.
E, se qués ver se ardentes são seus tiros,
olha se são ardentes meus suspiros.
Quando rumor algum grande se sente,
que se acende fogo em casa, ou torre,
de pura compaixão vai toda a gente
gritando: «Água ao fogo!» e cada um corre;
assi anda meu peito em chama ardente,
e coa água dos olhos se socorre;
que quem me abrasa outra água me defende,
porque com esta o fogo mais se acende.
Quando o sol sai lá no Oriente
o seu antigo curso começando,
fermoso, intenso, puro e refulgente,
o monte, campo, mar, tudo alegrando;
quando de nós se esconde no ponente,
e noutras terras sai, alumiando;
sempre, enquanto dá ao mundo giro,
por ti meus olhos choram e eu suspiro.
Caminha o dia todo o caminhante,
vem, acabado, a noite em que descansa;
trabalha na tormenta o mareante,
goza o dia sereno e de bonança;
recobra o ano fértil e abundante
na terra o lavrador, se nela cansa:
mas eu, de meu trabalho e mal tão forte,
tormento espero, enfim, e crua morte.
Co ouvir meu mal, as rosas matutinas,
de dó de mim, se cerram e emurchecem;
co meu suspiro ardente, as cores finas
perdem o cravo e lírio, e não florecem.
Coa roxa aurora, as pálidas boninas,
em vez de se alegrarem, se entristecem;
deixa seu canto Progne e Filomena;
que mais lhe dói que a sua a minha pena.
Responde o monte côncavo a meus ais,
e tu, como áspide, cerras-lhe o ouvido;
as árvores do campo, os animais,
mostram sentir meu mal sem ter sentido;
e a ti, as minhas dores desiguais
não movem esse peito endurecido.
Por mais e mais que chamo, não respondes,
e quanto mais te busco, mais te escondes.
Naquela parte adonde costumavas
apacentar teus olhos e teu gado,
ali, onde mil vezes me mostravas
ser eu de ti o pasto desejado,
mil vezes te busquei por ver se davas
ainda algum descanso a meu cuidado.
No campo em vão te busco, e busco o monte,
qual o ferido cervo busca a fonte.
Este lugar de ti desamparado,
com cujas sombras frias já folgaste,
agora triste e escuro e já tornado;
que todo o bem contigo nos levaste.
Tu eras nosso sol mais desejado;
não temos luz despois que nos deixaste.
Toma, meu claro sol! Vem já, meu bem!
Qual é o Josué que te detém?
Despois que deste vale te apartaste,
não pace o branco gado, com secura;
secou-se o campo dês que lhe negaste
des teus fermosos olhos a luz pura;
secou-se a fonte donde já te olhaste,
quando melhor que agora, áspera e dura.
Nega, sem ti, a terra dando gritos,
pasto às cabras e leite aos cabritos.
Sem ti, doce cruel minha inimiga,
a clara luz escura me parece;
este ribeiro, quando Amor me obriga,
com meu chorar por ti contino crece.
Não há fera que a fome não persiga,
nem o campo sem ti já não florece;
cegos estão meus olhos, já não vêem,
pois que não podem ver meu claro bem.
O campo, como de antes, não se esmalta
de bobinas azuis, brancas, vermelhas;
não chove ao pasto já, que há de água falta;
as mansas e pacíficas ovelhas
sem ti perecem e o Céu também lhes falta;
não acham flor as melífluas abelhas;
com lágrimas que manam dos meus olhos
produze a terra já ásperos abrolhos.
Torna pois já, pastora, a este prado,
e restituirás esta alegria;
alegrarás o monte, o campo, o gado,
alegrarás também a fonte fria.
Torna, vem já, meu sol tão desejado,
faze esta noite escura em claro dia;
e alegra já esta magoada vida,
toda em tua ausência consumida.
Vem, como quando o raio eminente
do nosso horizonte que, escondido,
deixa um certo temor à mortal gente,
que causa ver o orbe escurecido;
e quando torna a vir, claro e luzente,
alegra o mundo todo entristecido.
Assi é para mim tua luz pura
claro sol; e, ausente, noite escura.
Tu, esquecida já do bem passado e
e do primeiro amor que me mostraste,
teu coração de mim tens apartado,
e o lugar também desamparaste.
Não te quero eu a ti mais que a meu gado?
Não sou eu mesmo aquele que tu amaste?
Pois onde mereci tão grão desvio?
Ouve-me, pois me vês já morto e frio.
Bem vês que por Amor se move tudo,
e não há quem de Amor se veja isento:
o animal mais simples, baixo e rudo;
o de mais levantado pensamento;
até debaixo de água o peixe mudo,
lá tem d'Amor também seu movimento;
a ave, que no ar cantando voa
e também por outra ave se efeiçoa.
A música do leve passarinho,
que sem concerto algum solta e derrama,
saltando de raminho em raminho,
cantando com amor suspira e chama,
'té achar no amado e doce ninho
aquele a quem busca e a quem ama,
descansa do trabalho que tomara
tendo se seu descanso em quem achara.
A fera que é mais fera, e o leão
sempre acha outro leão, e outra fera,
em que possa empregar üa afeição
que lhe a conversação no peito gera;
também sabe sentir sua paixão,
também suspira, morre e desespera,
acena, salta, brada, ferve e geme
e, não temendo nada; Amor só teme.
O cervo que, escondido e emboscado,
temendo o cobiçoso caçador,
está na selva, monte, bosque ou prado,
ali onde está e vive, vive amor.
De amor e de temor acompanhado,
com justa causa, amor tem e temor:
temor de quem ali feri-lo vinha;
e amor a quem já ferido o tinha.
Se o animal insensível, que não sente,
também sente de amor a frecha dura,
porque te não abranda o fogo ardente,
que procede de tua fermosura?
Porque escondes a luz do sol a gente,
que nesses olhos trazes, bela e pura,
mais bela, mais suave e mais fermosa
que o lírio, o jasmim, o cravo, a rosa?
Pode ser, se me viras, que sentiras
ver desfazer um peito em triste pranto;
e bem pouco fizeras, se me viras,
já que eu só por te ver, suspiro tanto.
As mágoas e suspiros que me ouviras
te puderam mover a grande espanto,
a dor, a piadade, a sentimento;
e mais, que para mim é meu tormento.
Os pensamentos vãos, que o vento leve;
o suspirar em vão também ao vento;
o esperar a calma, a chuva, a neve,
e não te poder ver em só momento,
tormento é que somente a ti se deve.
E se pode inda haver maior tormento,
quem te viu e se vê de si ausente,
muito mais passará mais levemente.
Faz nossa a pedra dura em sua dureza
coa água que lhe toca brandamente;
abranda o ferro forte a fortaleza,
se lhe toca também o fogo ardente;
só em ti não conheço a natureza,
que a ser de pedra, ferro, ou de serpente,
já teu peito cruel fora desfeito
do fogo e das lágrimas que deito.
Quando a fermosa Aurora mostra a fronte,
alegra toda a terra, vendo o dia;
quando Febo aparece no horizonte,
manifesta também grande alegria;
contente como o gado ao pé do monte,
alegre vai beber a fonte fria.
Tudo contente está, alegre tudo;
eu só, só, pensativo, triste e mudo.
Se da alma e do corpo tens a palma,
e do corpo sem alma não tens dó,
há dó do corpo só, que está sem alma,
pois sem alma não vive o corpo só.
Na chama, no ardor, no fogo e calma,
na afeição, no querer eu sou um só;
não acharás vontade mais cativa;
nem outra como a tua tão esquiva.
Se te apartas por não ouvir meu rogo,
onde estiveres te hei-de importunar;
posto que vá por água, ferro ou fogo,
contigo em toda a parte me hás-de achar;
que a chama que me abrasa é de tal fogo
que, enquanto eu vivo for, há-de durar;
e o nó que me tem preso é de tal sorte
que não se há-de soltar em vida ou morte.
Neste meu coração sempre estarás
enquanto a alma estiver com ele unida;
meu spírito também possuirás,
despois que a alma do corpo for partida;
por mais e mais que faças, não farás
que não te ame nesta e na outra vida.
Impossível será que, eternamente,
estês de mim ausente, estando ausente.
Cá me acompanhará tua memória,
se o rio que se diz do esquecimento
da minha não borrar tão longa história,
tão grave mal, tão duro apartamento.
Até que eu te veja entrar na glória
viverei num contino sentimento;
inda então será – se isto ser possa -
servir esta alma minha lá a vossa».
Aqui, com grave dor, com triste acento,
deu o triste pastor fim a seu canto;
co rosto baixo, e alto o pensamento,
seus olhos começaram novo pranto;
mil vezes fez parar no ar o vento
e apiadou no Céu o coro santo;
as circunstantes selvas se abaixaram
de dó das tristes mágoas que escutaram.
Com üa mão na face, e encostado,
em sua dor tão enlevado estava
que, como em grave sono sepultado,
não viu o sol que já no mar entrava.
Berrando anda em roda o manso gado,
que o seguro curral já desejava;
nas covas as raposas, e em seus ninhos
se recolhem os simples passarinhos.
Já sobre um seco ramo estava posto
o mocho co funesto e triste pranto,
a cujo som o pastor ergueu o rosto
e viu a terra envolta em negro manto.
Quebrando então o fio a seu gosto,
mas não quebrando o fio a seu pranto,
para melhor cuidar em seu cuidado,
levou para os currais o manso gado.
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