segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Negativizar a realidade para dominar as mentes

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Uma das formas de perpeturar todas as formas de opressão é a identificação dos que são oprimidos com os opressores. Ou seja, querem ser como os opressores.

O sonho dos escravos eram ser donos de escravos. Por isto não estranhei a notícia de que provavelmente no Quilombo dos Palmares havia escravidão. Havia o sonho de alguns serem livres e não de construir uma sociedade livre.

Todo pensamento tem seus limites. Sem reflexão e sem propostas os limites ficam sendo o limite colocado pela classe dominante e assimilada pelo conjunto da sociedade.

Na época em que alguns lutavam pelo fim da escravidão havia muitas "almas bondosas" que acreditavam que seria uma maldade acabar com a escravidão e "reduzir os escravos a uma situação de animalidade". Isto mesmo! Os ex-escravos iriam sofrer mais sendo livres do que como escravos. Ou seja, os que defendiam o fim da escravidão eram maldosos que não se importavam com o destino dos negros, principalmente os idosos e crianças.

Muitos acreditaram neste e em outros discursos. A função do discurso é justamente conseguir com que as pessoas PENSEM O QUE VAI GARANTIR A PERPETUAÇÃO DO QUE É REAL NAQUELE MOMENTO HISTÓRICO.

Por isto são construídos múltiplos discursos que visam conservar a realidade e o discurso que prega a mudança é sempre desqualificado. Se um discurso conservador não "colar" na cabeça de uma pessoa o outro pode colar. Outro discurso constante naquela época era que os negros livres e sem controle iriam roubar, estuprar e matar as famílias dos seus ex-proprietários. Iriam se vingar.

Vários discursos foram criados. Todos com a mesma finalidade: manter a escravidão. Precisou vir de fora um discurso que dizia: todos os seres humanos são iguais (liberdade, igualdade, fraternidade, lembram do discurso da revolução francesa?)Este discurso permitiu com que lentamente a sociedade ocidental mudasse.

Este discurso foi fundamental para conquistas como o fim da escravidão, a universalização do voto, o conceito de que todos devem estudar, etc. O mundo é melhor por causa deste discurso.

Hoje as conquistas são outras. Tomar cuidado para não reproduzir o discurso conservador é fundamental. Por exemplo, o discurso conservador adora discutir nomes (e não conteúdo). Lembra quando teve o xilique dos cartões corporativos? Eu chamaei atenção aqui para o risco de discutir algumas compras isoladamente (e de modo negativo). Dizia: daqui a pouco o assunto "morre" e o principal, a transparência pública, não é discutida. Foi o que aconteceu.

Na reforma tributária é a mesma coisa. Discute-se o que interessa às empresas e aos grandes grupos econômicos, como se somente estes fossem os interesses do país. Graças a Deus uma deputada do PSB conseguiu aprovar uma emenda que isenta os produtos da cesta básica(?) de impostos. PRONTO!!!! Ficou mais difícil aprovar a reforma tributária.

Qual o discurso conservador: no Brasil se paga muito imposto. Qual a realidade? Os muito ricos pagam POUCO impostos. A classe média paga BASTANTE impostos. Os mais humildes pagam impostos EXTORSIVOS.

Qual o interesse dos setores conservadores que agem segundo os interesse dos muito ricos: reduzir o pouco imposto que os mais ricos pagam. E não reduzir os impostos que pesam mais para os mais humildes.

Quando o sujeito recebe o Bolsa Família ele tem que cumprir algumas exigências. Quando o total a ser pago pelo empresário para o INSS é REDUZIDO fica sem condicionantes?

Porque é assim? Por que nos acostumamos com os mais ricos terem muitos benefícios. É normal. Não gera controvérsias. Para beneficiar bastante os muito ricos, algumas migalhas sobram para os pequenos empresários. Como é o caso da redução do INSS.

Controvérsias são geradas quando o benefício atinge os mais humildes.

É o caso do PROUNI que está sendo julgado no STF. Pode ou não pode dar bolsa de estudos para os mais humildes? Este é o fundo da decisão. Se o dinheiro não for para as bolsas de estudos voltarão a ser de livre uso dos donos das instituições de ensino. Aí você sabe o que acontecerá.

Durante décadas estes donos de instituições de ensino tiveram privilégios sem dar nada em troca para a sociedade. Isto sempre foi normal, natural. Não causava polêmica.

Hoje, para uma parcela da população não é mais normal...

Para desqualificar as políticas de cotas e o PROUNI construíram o discurso de que haveria um enxame de alunos desqualificados nas universidades. Isto seria um risco para a sociedade. Hoje, com os vários anos de cotas sabemos que os alunos beneficiados conseguem acompanhar o nível do ensino e que em vários casos vão melhor do que alunos que entraram sem o benefício das cotas.

"Entre 2001 e 2008, 52 mil vagas foram oferecidas em 48 escolas que adotaram políticas de ações afirmativas em benefício de alunos da rede pública, negros e índios. Passaram-se sete anos e até hoje não apareceu um só episódio ou estudo relevante capaz de desqualificar essas políticas". Elio Gaspari


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