quinta-feira, 16 de abril de 2009

Agrotóxicos na sua comida

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Anvisa monitorou 17 alimentos e constatou uso de agrotóxico não permitido em todos eles



Depois de analisar 1.773 amostras de 17 alimentos muito consumidos pelos brasileiros, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) constatou que o pimentão ocupou o lugar do tomate no primeiro lugar do ranking de alimentos com quantidade de agrotóxico acima do limite e com outros não autorizados para a cultura. Mais de 64% das amostras do produto apresentaram resultados insatisfatórios. Assim como a cenoura, o morango e a uva que tiveram mais de 30% das amostras reprovadas. Constatar que o Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (PARA) recolheu as amostras nos maiores supermercados de 15 estados e do Distrito Federal, torna o resultado ainda mais preocupante.

O tomate reduziu a quantidade de agrotóxicos encontrados nas amostras, de 44,72% em 2007, para 18,27% em 2008. Mas continua acima da média geral de irregularidades encontradas nos alimentos, de 15,29%. O arroz e o feijão, principais ítens da cesta básica, apresentaram índices de irregularidades baixos de 3,68% e 2,92% respectivamente. A batata, que em 2002, primeiro ano de monitoramento apresentou índices insatisfatórios de 22,2%, teve o nível reduzido para 2%.

Doenças graves

O monitoramento investigou 167 diferentes agrotóxicos nas amostras. Um dos pesticidas encontrados no abacaxi, o ometoato, é proibido no Brasil. Segundo a professora de Toxologia da Universidade de Brasília (UnB), Eloisa Dutra Caldas, o ometoato pode causar alterações neurológicas e danos ao cérebro. A Polícia Federal será acionada para investigar quem está distribuindo clandestinamente o produto.

Além de alterações neurológicas, o excesso de consumo de alimentos com altas concentrações de agrotóxicos pode causar doenças crônicas e contribuir consideravelmente para o desenvolvimento de alergias e cânceres. É o que garante a a presidente do Conselho Regional de Nutricionistas, Simone Rocha. Os agrotóxicos são responsáveis pela segunda maior causa de intoxicação da população no Brasil.

Apesar disso, Eloisa Dutra garante que as pessoas não devem deixar de consumir frutas e verduras porque os benefícios trazidos por esses alimentos são maiores que os malefícios causados pelos agrotóxicos:

– Sabemos que o desenvolvimento do câncer é, muitas vezes, causado por uma dieta pobre em frutas e verduras – afirma a professora. – Os danos sérios só são causados se o alimento for muito consumido e se nesse alimentos tiverem uma grande quantidade de agrotóxicos.

A afirmação feita pelo ministro da Saúde, José Gomes de Temporão, de que ele vai deixar de consumir os alimentos constatados com alto teor de agrotóxico é, na opinião de Eloisa, uma exagero.

Para Temporão, a população deve dar preferência aos produtos da época, que necessitam de menos pesticidas na hora de serem produzidos.

Já Simone Rocha sugere que os consumidores retirem a casca dos alimentos, mesmo que isso cause a perda de fibras.

– Com a retirada da casca, perde-se fibra, mas diminui a contaminação – afirma Simone. – Os produtos comprovadamente sem agrotóxicos são mais caros, mas é preciso analisar o custo-benefício.

Campeão de consumo

Em 2008, o Brasil assumiu o posto de maior consumidor de agrotóxicos do mundo, movimentando um mercado de US$ 7 bilhões. A posição antes ocupada pelos Estados Unidos. A Anvisa trabalha na reavaliação de substâncias ativas utilizadas em agrotóxicos no Brasil. Três delas, metamidofós, acefato e endossulfam, foram encontrados em pelo menos 14 dos 17 alimentos monitorados pelo PARA. Alguns apresentavam mais de um deles. O morango apresentava os três.

De acordo com o gerente geral de toxicologia da Anvisa, Luiz Cláudio Meirelles, o registro de um agrotóxico no Brasil vale para sempre, mas se estudos comprovarem o dano de alguns deles para a saúde, o registro pode ser suspenso.

Em 2008, a Anvisa tentou reavaliar 14 ingredientes ativos, utilizados em mais de 200 agrotóxicos, mas uma série de decisões judiciais impediram a reavaliação. Até hoje, a Agência proibiu o uso de quatro ingredientes ativos e restringiu o uso de outros 19, utilizados na fabricação de mais de 300 agrotóxicos no país.

A adesão ao PARA é espontânea e Alagoas foi o único estado que ainda não aderiu. O monitoramento não tem caráter fiscal. Depois de concluído, os órgãos responsáveis pelas áreas de agricultura e meio ambiente são acionados para rastrear o problema. Os dados são uma média, o que não significa que os alimentos terão estes índices de contaminação em todo o país.

Jornal do Brasil - 16/04/2009


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