segunda-feira, 13 de abril de 2009

A falta de conhecimento devasta a natureza

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Há dez anos atrás fui visitar um primo do meu pai que fazia aniversário e a "grande família mineira" resolveu se encontrar para comemorar.

Fiquei hospedado na casa de um outro primo distante. Um senhor nota dez no coração, nota mil na hospitalidade e nota um milhão no caráter.

Este senhor me levou à uma fazenda, de um outro parente. O dono me mostrou a propriedade e disse: "hoje já não é possível viver disto aqui. Está muito difícil".

Era uma fazenda enorme, de mais de cem alqueires mineiros.

O modelo de produção estava errado, a administração dos custos era precária, a contabilização dos dados da fazenda era praticamente inexistente.

Como era o desejo do primo que me hospedou, eu ajudei este outro primo fazendeiro (no aspecto administrativo).

Uma das características da fazenda era que a mata-ciliar era completamente devastada.

Os dois primos eram pessoas corretas, trabalhadoras, decentes. Como todo brasileiro, eles escolhem as leis que vão cumprir e as que NÃO vão cumprir. Mudar a lei que protege a mata-ciliar (na beira dos rios) é uma forma de coloca-los dentro da lei. Seria muito bem vinda por eles, acredito eu. Assim, ficariam dentro da lei (o que é importante para eles).

A verdade é: por falta de conhecimentos administrativos e agronômicos/veterinários, a rentabilidade da fazenda é bem menor do que poderia ser. Para compensar adotam uma "política" de exaustão do solo e da natureza.

Lembrei desta passagem da minha vida quando recebi um email relatando a situação em Santa Catarina.

Reproduzo abaixo partes do email que recebi:

"A última enchente em Santa Catarina resultou em 135 mortes, 100 mil desalojados e atingiu 1,5 milhão de pessoas. Os deslizamentos de terra e as enxurradas foram apontados como as principais causas da catástrofe. As construções irregulares foram as primeiras a serem soterradas. Nessa terça-feira a Assembléia Legislativa catarinense parece que vai seguir um caminho contrário ao esperado. Ao invés de criar regras mais rígidas para as construções e limites maiores de áreas florestais, a instituição deve votar uma legislação ambiental mais branda. Se isso acontecer vai ser possível construir a cinco metros de cursos de água, dependendo do tamanho da propriedade. Os limites para construção em encostas também ficam indefinidos. Um grande risco para um Estado onde os deslizamentos já são comprovadamente mais fáceis de acontecer. A relação entre o desmatamento e a tragédia já foram relatados...

O centro da polêmica são as áreas de florestas obrigatórias em propriedades particulares, as conhecidas áreas de preservação permanentes (APPs). A proposta que a Assembléia catarinense vai analisar reduz a proteção nessas regiões. Em propriedades com menos de 50 hectares a parcela obrigatória de mata passa dos atuais trinta metros para apenas cinco metros, ou dez metros dependendo do tamanho do curso do rio. Sem as árvores para conter a terra no solo os rios tendem a ficar mais assoreados, o que aumenta a propabilidade de ocorrerem enxurradas e enchentes.

Outro problema são as áreas de encostas. De acordo com a legislação federal é proibido construir e derrubar a vegetação nas bordas dos tabuleiros ou chapadas, a partir da linha de ruptura do relevo, em uma área nunca inferior a cem metros em projeções horizontais. A nova lei não estabelece esse limite de cem metros, o que pode aumentar a proximidade de casas com as encostas. Em dezembro, a associação de funcionários da Fundação Ambiental de Santa Catarina (Fatma) divulgou uma carta de esclarecimento sobre o projeto. De acordo com o a nota, o texto apresentado pelo Governador do Estado para a votação na Assembléia seria diferente das propostas elaboradas pelos técnicos da fundação.

A possível aprovação dessa nova lei ambiental já gerou uma verdadeira guerra entre ambientalistas e produtores rurais do Estado. Os agricultores alegam que a proposta vai beneficiar 167 mil pequenas propriedades com o aumento de suas áreas de produção. [foi por causa desta frase que me lembrei dos meus primos mineiros] Para os ambientalistas a medida é um tiro no pé, pois essa maior produção pode agravar os problemas de enchentes e deslizamentos da região".




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