segunda-feira, 30 de junho de 2008

Moralismo irracional gera burocracia e hipocrisia

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O Brasil sempre foi o paraíso da falta de respeito com o dinheiro público.

Aliás, não é só desrespeito com o dinheiro público.

Desrespeito com praça pública, escola pública, calçada pública, telefone público.

O que é público é visto como sendo de ninguém.

É um traço cultural forte de nossa sociedade, que só agora começa a mudar um pouco.

Nada mais esperado que ONGs que usam o dinheiro público atraiam alguns bandidos.

Quando se descobrem alguns destes casos começa o XILIQUE.

Boas pessoas, bem intencionadas, repetem o discurso conservador (e hipócrita) que busca criminalizar indistintamente entidades sociais, que em sua IMENSA MAIORIA prestam ótimos serviços ao Brasil.

Leiam o email abaixo que recebi (desconheço o autor), depois eu comento:


“ONGs imorais

Antes tarde do que nunca. O Tribunal de Contas da União decidiu fazer uma devassa nas ONGs mantidas por órgãos públicos federais. O TCU estima que quase a metade do dinheiro repassado pela União às ONGs - perto de R$ 1,5 bilhão - tenha sido desviada da finalidade ou surrupiada pelos dirigentes, enquanto as verdadeiras sociedades beneficentes estão à mingua, sem recursos para manter a assistência às comunidades carentes.

Sem registro

Em 2002, o Brasil tinha 22 mil ONGs; em 2006, passaram a ser 260 mil; em 2007, pularam para 300 mil, das quais cerca de 100 mil atuam na Amazônia, segundo a CPI do Senado. Entre as 300 mil, somente 4,5 mil estão legalmente registradas no Ministério da Justiça. Um absurdo total”.


Chicão comenta:

O TCU vai fiscalizar? O dinheiro é nosso, não deveria sermos nós a fiscalizar?

Para romper com o discurso moralista (e hipócrita) tem que haver proposta.

Proposta racional e concreta.

Proposta que seja formulada independentemente de ACUSAÇÕES E DEPRECIAÇÃO alheia.

Observe bem a frase: “as verdadeiras sociedades beneficentes estão à mingua, sem recursos”.

Como assim? Quem recebeu recursos são falsas entidades?

A generalização é uma arma poderosa para destruir as pessoas, idéias e entidades.

Uma das entidades que mais recebeu recursos federais é a FUNCAMP, uma fundação da Unicamp.

Qual o problema? Ela é falsa entidade?

Guardem este nome: TRANSPARÊNCIA PÚBLICA.

Todos os dados referentes a recursos públicos devem estar na internet. ORGANIZADOS e disponíveis para todos os brasileiros.

O dinheiro é público e a prestação de contas deve ser pública.

Todos os contratos públicos devem ser públicos. Todos os documentos públicos devem ser REALMENTE públicos.

Colocar os dados públicos na internet é um ato de cidadania e INDEPENDE de um possível mau uso destes recursos.

Não adianta ficar feliz porque os conselheiros do TCU (políticos não reeleitos, em sua maioria) vão fiscalizar.

Além dos interesses políticos de seus membros, eles também não possuem estrutura – o que os farão escolher quais serão fiscalizadas e quais NÃO serão fiscalizadas (duvido que vão fiscalizar seus amiguinhos do DEM).

Se ficar na dependência de TCU os dados continuarão DESORGANIZADOS E ESCONDIDOS de nós, cidadãos.

Por isto o principal é a transparência pública.

Veja outra frase: “Entre as 300 mil, somente 4,5 mil estão legalmente registradas no Ministério da Justiça. Um absurdo total”.

Tem gente que ainda se sente SEGURO quando há burocracia.

Para que serve um registro no ministério da justiça, além de representar mais papel e mais regras?

A ONG tem registro jurídico, basta ao governo investir em tecnologia e criar uma base de dados ÚNICA E COMPARTILHADA. É tão simples... é tão importante...

Sem computadores e sistemas integrados o ministério da justiça tem dificuldade em saber até sobre mandatos de judiciais (o que é MUITO mais importante). – leia meu texto Boa notícia contra a burocracia -

Lembrem: toda burocracia surge de uma boa alma que com boas intenções cria regras e mais regras para as pessoas cumprirem.

RACIONALIDADE BRASIL, É ISTO QUE NÓS PRECISAMOS.

Para terminar: o discurso conservador está sempre disposto a generalizar e destruir.

O livre pensador deve evitar entrar no jogo de emoções que visa dominar a mente e agir racionalmente.

A racionalidade exige estudo e propostas viáveis para superar os problemas.



Observação: o centro espírita que freqüento possui uma creche. Uma creche mantida com muito empenho dos seus membros.

Ela tem de cumprir inúmeras normas sanitárias, educacionais, fiscais, etc.

Será que terá que gastar dinheiro e tempo para mais um registro?

Para quê?

Ela já é obrigada a ter VÁRIOS registros. Será que não dá para uma base de informações compartilhar estas informações dentro dos governos (seja federal, estadual ou municipal)?

É tão difícil assim?

Até quando vamos achar normal a criação de mais burocracia?

Até quando as pessoas vão se sentir SEGURAS com mais e mais regras e papéis que ninguém lê e nem fiscaliza.


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3 comentários:

Anônimo disse...

Caro Chicão,acompanhando suas opiniões a respeito do meio-ambiente, e de convivência nas áreas urbanas, principalmente em S P, essa medida que impede caminhões de passarem pelo centro urbano não é extemporânea, não deveriam restringir os automóveis, que transportam apenas uma pessoa, afinal oa caminhões transportam gêneros alimentícios, e produtos que abastecerão a cidade em suas necessidades, eles poluem mas são úteis e automóveis que transportam apenas uma pessoa são o quê....

José Carlos

Anônimo disse...

A burocracia é basicamente o resultado da manifestação do que chamo a síndrome da transferência da responsabilidade. Quando autoridade estatal exige que vc assine documente perante ela e em seguida pede para reconhecer firma está claro que esta é apenas uma transfer~encia de responsabilidade: o cartório passa a ser o responsável pela firma...

Anônimo disse...

A burocracia é basicamente o resultado da manifestação do que chamo a síndrome da transferência da responsabilidade. Quando autoridade estatal exige que vc assine documente perante ela e em seguida pede para reconhecer firma está claro que esta é apenas uma transfer~encia de responsabilidade: o cartório passa a ser o responsável pela firma...