quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Pacote americano: uma ótima explicação

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Agora, enfrenta problemas de monta para conseguir a aprovação junto ao Congresso. Principalmente porque ruiu a legitimação ideológica que sustentava o modelo de financeirização da economia norte-americana e mundial.

Nas últimas décadas, toda sorte de abusos foi cometida pelo sistema financeiro internacional, puxado pelos grandes bancos de investimento novaiorquinos. Quando a fogueira se alastrava, o FMI ou o Tesouro eram chamados a ajudá-los.

Os bancos e fundos especulavam até a corda arrebentar. Na véspera, entrava o FMI com empréstimos de emergência, que serviam apenas para permitir a saída dos especuladores sem grandes perdas.

Foi assim no vergonhoso acordo firmado pelo Brasil em outubro de 1998, no qual praticamente todos os recursos aportados pelo FMI serviram para salvar as aplicações dos especuladores externos.

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Esse modelo começou a fazer água com o primeiro Secretário do Tesouro do governo George W. Bush, Paulo O’Neil – um executivo vindo do setor real da economia. Seu primeiro pronunciamento foi um alerta de que o jogo acabara. Não durou muito no cargo, mas o recado alterou o jogo político e permitiu um questionamento maior sobre as operações de salvamento de bancos.

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O que acontece agora é dramático, e lembra a história do menininho que, de tanto mentir, não tinha mais credibilidade quando pediu socorro ante um perigo real.

Ontem Paulson e Ben Bernanke, presidente do FED, suavam frio para convencer os congressistas a autorizar a operação de salvamento. Mas os questionamentos foram duros. A operação continha liberalidades ilegítimas para os bancos. Eles compraram títulos do sub-prime. O valor desses títulos desabaram. Não podem ser colocados em massa no mercado, senão cairão mais ainda. O correto seria o Tesouro definir uma data de corte e adquirir os títulos pelo valor de mercado – impondo um prejuízo às instituições.

Mas o que se pretende é adquirir os títulos pelo chamado prazo decorrido. Pegam a rentabilidade de face do título, calculam seu rendimento até a data de corte, e consideram esse valor para a troca por títulos do Tesouro. Um privilégio indecente.

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O plano de Roosevelt com o New Deal teve legitimidade porque focou a ajuda nos mutuários. Adquiriu os créditos dos inadimplentes, refinanciou e montou um amplo trabalho social de apoio. Por tabela, salvou o sistema financeiro.

No jogo atual, esqueceram o principal: os mutuários. E isso vai dificultar a aprovação do cheque em branco.

do blog do Luis Nassif




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