sexta-feira, 16 de maio de 2008

As duas mortes do meu amigo


Um dia recebi um telefonema da esposa de um amigo. Ele estava com câncer. Ela me pediu para ir até sua casa para conversar com ele.

Eu fui quase na mesma hora.

Ele estava na varanda de sua bela casa. Era um homem bem sucedido e que havia dado muitas contribuições para a ciência.

O conheci através do espiritismo. Durante mais de 40 anos ele participou ativamente do movimento espírita.

Ele havia descoberto o câncer alguns meses antes. Fez o tratamento médico convencional e também fez várias “operações espíritas”.

Ele estava num impasse. Seu médico dizia que ele tinha mais 3 meses de vida. No centro espírita onde estava fazendo o tratamento falaram que ele estava curado.

Ele me perguntou sobre isto.

Eu disse: “fique com o diagnóstico médico. Eles possuem melhores condições de diagnosticar. Infelizmente é isto...”

Eu sabia que ele pensava o mesmo que eu. Para uma pessoa que estava a 40 anos propagando sua fé, aquele erro era especialmente doloroso.

Eu completei: “O kardek queria muito que as pessoas assumissem a responsabilidade pela própria vida, pois sabia que os espíritos também são muito falhos”.

Ele sabia disto, porém havia visto centenas de casos de pessoas que foram curadas por meio destas “operações”. Ele tinha esperança. Isto o angustiava mais ainda.

No mesmo dia marcou uma consulta com seu médico e se submeteu a uma série de exames comprobatórios. O resultado foi que o câncer estava por todo o corpo e não havia mais o que fazer.

Conversei com ele várias vezes até o seu desencarne.

No dia que recebeu os resultados foi até minha residência. Com muita sinceridade me perguntou: “o que faço”?

Eu disse: “agradeça. Você tem uma ótima esposa, bons filhos, sempre teve saúde. Você teve boas oportunidades na vida e soube aproveitá-las. Você teve o benefício de poder ajudar muita gente na vida. Agradeça, agradeça, meu amigo”.

Continuei: “Não acredite que estes momentos serão os últimos. Não serão. Serão os últimos desta experiência como ser encarnado. Não permita que sua fé fraqueje por causa de espíritos que se mostraram limitados. Eles ofereceram o que eles podiam oferecer. Cabe a nós aproveitar o que há para aproveitar e descartar o resto”.

Na nossa última conversa ele me disse que aqueles foram os meses mais intensos de sua vida, do ponto de vista da aprendizagem pessoal e espiritual.

Quatro meses depois da primeira conversa meu amigo desencarnou. Desencarnou em paz e agradecendo a Deus.

Eu agradeço a Deus a oportunidade de ter estado ao seu lado por alguns momentos de minha vida.

Obrigado Deus!

Obrigado!

Obrigado!




Amigo!











Um comentário:

Lomyne disse...

Eu quero te contar uma história. Mais do que um seguidor do espiritismo, meu pai era sacerdote. Mais do que kardec, sou de uma família ligada ao culto africano dos orixás. Mais do que qualquer coisa, eu tenho fé. Vou te contar porquê. Em 1988, meus pais foram à África, foram atendidos por um grande sacerdote de Ifá e este sacerdote disse a meu pai que deveria seguir o caminho de sacerdote. Ele não deu ouvidos, continuou sua vida de representante comercial. As coisas se complicaram financeiramente, minha irmã faleceu em 1992, aos 16 anos, e ainda assim não me perdi de minha fé.

O tempo passou, perdemos quase tudo e então meu pai se deparou com o sacerdócio, em 95. Nossa vida mudou, crescemos, aprendemos, progredimos. Em 1999, uma cirurgia espiritual curou um câncer de útero da minha mãe. Os médicos não souberam explicar. Em 2006, meu pai descobriu um câncer de intestino, grave. Os médicos disseram "3 meses de vida", ele viveu por mais um ano. Com saúde, diga-se de passagem.

Nunca em minha família, se questionou os porquês superiores. Não fizemos isso, por conta de um dos mais sábios ensinamentos de meu pai: às vezes, diante de coisas que eu não entendia, eu perguntava ao meu pai e ele sempre respondia "não sei, filha" e eu impaciente e questionadora retrucava "porque você não perguntou ao oráculo?" e a réplica era sempre a mesma: porque Ifá nos ensina que quando nos tornamos sábios demais, está na hora de passar para um plano superior. Aprendi a crer nisso com todo meu coração. Meu pai e seu amigo evoluiram, se tornaram sábios demais para estarem aqui.

Por fim, te digo duas coisas. Primeiro, nós sabemos bem menos do que os seres superiores, há razões para isso. Segundo, uma cura espiritual muitas vezes se refere mais a estar pronto para o próximo passo da caminhada do que estar pronto para continuar vivendo neste plano. Há diferenças substanciais nisso. Fique bem, o tempo lhe ajudará a entender.