sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Agrotóxicos em seu estômago

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Os ricos sabem do que estamos falando e tratam de consumir apenas produtos orgânicos. E você precisa decidir-se. De que lado está?

Os porta-vozes da grande propriedade e das empresas transnacionais estão muito bem pagos para poder defender, falar e escrever todos os dias que no Brasil já não existe mais problemas agrários. Por fim, a grande propriedade está produzindo muito mais e tendo mais benefícios. Portanto, o latifúndio já não é um problema para a sociedade brasileira. Será verdade?

Tampouco vou abordar o tema da injustiça social da concentração da propriedade da terra, que faz com que apenas 2%, ou seja, 50.000 latifundiários sejam donos da metade de toda nossa natureza, enquanto que temos 4 milhões de famílias sem direito a ela.

Falarei das consequências para você que habita na cidade da adoção do modelo agrícola do agronegócio. O agronegócio é a produção em grande escala, em monocultivos, empregando muitos agrotóxicos e maquinaria. Usam venenos para eliminar as outras plantas e não contratar mão de obra. Com isso, destroem a biodiversidade; alteram o clima e expulsam cada vez mais famílias de trabalhadores rurais de suas terras.

Na colheita passada, as empresas transnacionais, e são poucas (Basf, Bayer, Monsanto, DuPont. Sygenta, Bunge, Shell química...), celebraram porque o Brasil se tornou o maior consumidor mundial de venenos agrícolas. Foram vertidos 173 milhões de toneladas! Uma média de 3.700 quilos por cada brasileiro. Esses venenos são de origem química e permanecem na natureza. Degradam o solo. Contaminam as águas. E, sobretudo, acumulam-se nos alimentos. Os cultivos que mais usam venenos são: a cana de açúcar, a soja, o arroz, o milho, o tabaco, o tomate, a batata, a uva, as cerejas e as hortaliças. Tudo isso deixará resíduos em seu estômago. E em seu organismo afetam as células e, um dia, poderão transformar-se em câncer.

Perguntem aos cientistas de nosso Instituto Nacional do Câncer, centro de referência da investigação nacional, qual é a principal origem do câncer, depois do tabaco?

A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) denunciou que existem no mercado mais de vinte produtos agrícolas não recomendáveis para a saúde humana. Porém, ninguém coloca um aviso nos rótulos dos alimentos, nem os retira das prateleiras. Antigamente, era permitido que a soja e o óleo de soja tivessem apenas 0,2mg/kg de resíduos do veneno glifosato para não causar problemas de saúde. De repente, a Anvisa autorizou que os produtos derivados da soja pudessem ter até 10,0mg/kg de glifosato: 50 vezes mais. Isso aconteceu certamente por pressão da Monsanto, pois o resíduo do glifosato aumentou com a soja transgênica, de sua propriedade.

Isso mesmo está acontecendo agora com os derivados do milho. Depois que foi aprovado o cultivo de milho transgênico, o que aumenta o uso de venenos, querem ampliar a possibilidade de resíduos de 0,1mg/kg (permitido atualmente), para 1,0mg/kg.

Existem muitos outros exemplos das consequências dos agrotóxicos. O doutor Vanderley Pignati, pesquisador da UFMT (Universidade Federal do Mato Grosso), revelou em suas pesquisas que nos municípios onde há grande produção de soja, devido ao uso intensivo de venenos, os índices de abortos e malformações de fetos são quatro vezes maiores do que a média do Estado.

Nós temos defendido que é preciso valorizar a agricultura familiar, camponesa; que essa é a única que pode produzir sem venenos e de maneira diversificada. O agronegócio, para ter escala e obter grandes benefícios, somente consegue produzir com venenos e expulsando aos trabalhadores para as cidades.

E você paga a conta com o aumento do êxodo rural, das favelas e com o aumento da incidência do veneno em seus alimentos.

Por isso, defender a agricultura familiar e a reforma agrária, que é uma forma de produzir alimentos saudáveis, é uma questão nacional, de toda a sociedade. Não é mais um problema dos sem terra. E é por isso que cada vez mais o MST e a Via Campesina se mobilizam contra o agronegócio e contra as empresas transnacionais; é por isso que seus veículos de comunicação e seus deputados e senadores nos atacam tanto. Porque estão em disputa dois modelos de produção. Está em disputa a que interesses a produção agrícola deve atender: somente o benefício ou a saúde e o bem estar da população?

Os ricos sabem do que estamos falando e tratam de consumir somente produtos orgânicos. E você precisa decidir-se. De que lado está?

João Pedro Stedile Membro da coordenação nacional do MST e da Via Campesina Brasil

do site ADITAL



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2 comentários:

Anônimo disse...

Em Barbacena MG vivemos este drama grande produção de ortigrangeiros com veneno. Por outro lado grande numero de trabalhadores intoxicados 70%, segundo dados da Fundacentro e muitos casos de câncer tratados no centro de oncologia do hospital Hibiapa

BeMedina disse...

O triste é que quem mais usa agrotóxico nessa terra são os pequenos produtores - talvez não os assentados, porque sei que os assentamentos do MST, sempre que possível, praticam a agricultura orgânica, afinal têm bastante mão-de-obra, assistência técnica do próprio movimento e pouquíssimo financiamento, ao contrário do que a grande imprensa gosta de afirmar, mas sim os pequenos produtores proprietários, que são os que mais cultivam alimentos no Brasil.

Agronegócio produz é comida pra boi americano e europeu e exporta soja e milho. Quem planta arroz, hortaliças, feijão é o pequeno proprietário rural.

Não dá para beatificar a classe de pequenos proprietários. Pude ver isso muito bem enquanto morei no sul de Minas, região de pequenas propriedades produtivas que descobriram os agrotóxicos há pouco tempo e que fazem a festa da indústria química - e os índices de câncer, diabete e outras doenças crônicas só faz subir.