terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Pratos vazios, o futuro da agricultura

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Em especial na Science, cientistas pedem mudanças radicais na produção agrícola, de modo a suprir a demanda por alimentos em um cenário com população crescente, falta de áreas cultiváveis e aquecimento global

A estimativa é que a população mundial chegue a 9 bilhões em 2050. Mas, enquanto o número de pessoas não para de crescer, o mesmo não se pode dizer do total de áreas cultiváveis, de água potável e de outros recursos
fundamentais para a sobrevivência humana.

A edição desta sexta-feira (12/2) da revista Science aborda o tema da segurança alimentar em uma seção especial, com reportagens e artigos produzidos por dezenas de cientistas de diversos países. As conclusões não são boas.

Mesmo com os avanços científicos e nas tecnologias agrícolas, o número de pessoas desnutridas já passou do 1 bilhão. Em um cenário como esse, como fazer para alimentar o mundo sem exacerbar problemas ambientais e, ainda por cima, tendo que lidar com a questão das mudanças climáticas?

Para o painel de cientistas que participou do especial, a resposta está na adoção de medidas radicais na produção de alimentos. Os pesquisadores pedem aos líderes mundiais que "alterem dramaticamente suas noções a respeito de agricultura sustentável de modo a prevenir uma fome de dimensões catastróficas até o fim deste século entre os mais de 3 bilhões de pessoas que vivem próximas à linha do equador", destacam.

Os pesquisadores clamam que os governantes "superem os conceitos populares
contra o uso da biotecnologia agrícola", particularmente com relação a
culturas modificadas geneticamente, de modo a produzir mais em piores
condições, e que os países tomem como base de suas regulações no setor os
mais avançados trabalhos científicos.

"Estamos diante de uma queda de 20% a 30% na produção agrícola nos próximos
50 anos nas principais culturas entre as latitudes do sul da Califórnia e da
Europa e a África do Sul", disse David Battisti, professor da Universidade
de Washington, nos Estados Unidos, e um dos cientistas que participaram do
especial na Science.

A produção nas mais importantes culturas agrícolas declina drasticamente
quando as temperaturas médias passam dos 30º C, apontam. E as projeções são
de que o fim do século, nas regiões tropicais e subtropicais, será de
temperaturas mais elevadas do que as mais altas registradas atualmente.

"Estamos cada vez mais preocupados por não saber o que é preciso fazer para
alimentar uma população crescente em um mundo que não para de se aquecer",
disse Nina Federoff, conselheira para ciência e tecnologia da secretária de
estado norte-americana, Hillary Rodham Clinton, outra autora do especial.

Mesmo sem o fator aquecimento global, segundo Battisti, alimentar uma
população que crescerá 30% em 40 anos seria um desafio imenso.
"Precisaríamos dobrar a produção atual de grãos nos trópicos", disse. O
problema, afirma, é que o clima mais aquecido reduzirá a produtividade, uma
vez que a temperatura elevada reduz a eficiência do processo fotossintético.

Os cientistas estimam que o aumento na temperatura, a queda nas chuvas e o
aumento da ação de pestes e patógenos poderão derrubar a produção de
alimentos nas regiões tropicais e subtropicais do planeta em pelo menos 20%
até 2050. Ou seja, mais gente com muito menos comida.

Os outros autores do especial destacam medidas para tentar enfrentar a
situação, tais como desenvolver sistemas que permitam produzir mais com
menos terra, energia ou água e reduzir a poluição associada com os
pesticidas agrícolas.

Battisti aponta que a chamada "revolução verde" na agricultura resultou em
um aumento de 2% na produção anual nos últimos 20 anos, especialmente por
meio do uso de novas variedades de plantas e do melhor uso da fertilização e
da irrigação.

Mas, apesar desses avanços, há pouca - ou mesmo nenhuma, em muitos lugares -
nova terra disponível para plantio. Por conta disso, mais inovações são
necessárias para lidar com esse panorama adverso.

"Precisamos de muitas ideias criativas, de um melhor casamento entre
biotecnologia e agricultura e de melhor coordenação entre esforços públicos
e privados por todo o mundo. Temos que pensar nas demandas de longo prazo
por alimentos e nas ramificações ambientais e sociais de como iremos
produzi-los" , disse Battisti.

O artigo Radically Rethinking Agriculture for the 21st Century, de Nina
Federoff, David Battisti e outros (10.1126/science. 1186834), pode ser lido
por assinantes da Science (Vol. 327, 12/2/2010) em www.sciencem.ag.org

O texto chegou sem o autor.




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