quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Desmatamento da Amazônia já pode ter causado seca no Sul

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Em 2004, a região Sul do Brasil foi atingida por uma seca que comprometeu a produção agrícola. Famílias perderam toda a colheita e o governo teve que fazer uma espécie de bolsa-seca para ajudar os produtores. A conseqüência foi a perda de mais da metade da produção de soja da região.

Quase quatro anos depois, pesquisadores podem ter descoberto a causa para a seca e ela está muito distante do sul: o desmatamento da Amazônia. Um estudo que será lançado nesta quinta-feira (19) na Conferência Amazônia em Perspectiva afirma que, mesmo que ainda não haja uma certeza, as chances de ligação entre o desmatamento da Amazônia e a seca do sul são grandes. O estudo foi financiado pela Global Canopy Programme em parceria com o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e a empresa Plant Inteligência Ambiental.

Os pesquisadores partiram do conceito dos rios voadores: massas de umidade que nascem da transpiração das árvores amazônicas, locomovem-se em direção ao sul e causam cerca de 70% das chuvas do sudeste e sul do Brasil. É possível que, com a diminuição da quantidade de árvores na Amazônia, haja menos transpiração e, portanto, menos umidade trazida para o sul. “Afunilando as possibilidades de causa da seca, estamos caindo na tese dos rios voadores”, afirma Warwick Manfrinato, engenheiro agrônomo que participou do estudo.

Ainda não é possível dizer com toda a certeza que o desmatamento na Amazônia foi a única causa da seca, diz Warwick, mas não há por que esperar para diminuir o ritmo da derrubada de florestas. “O dia em que tivermos números precisos relacionando o desmatamento com a queda na precipitação, será tarde demais. Será um desastre tão grande que teremos perdas de safra de 100%”.

Para Warwick, o grande diferencial de seu estudo foi que, pela primeira vez, pesquisadores tiveram coragem de associar o que acontece na Amazônia com as conseqüências na produção do sul do país. Eles levantaram dados de chuvas desde 1940 e compararam com a produtividade da agricultura. Notaram três períodos em que o regime de precipitação foi anormal e desequilibrado, um deles em 2004. A causa da alteração é, segundo Warwick, o aquecimento global – fenômeno causado pela emissão de gases de efeito estufa causada, entre outros fatores, pelo desmatamento.

O estudo tem como objetivo mostrar que a vulnerabilidade da produção agrícola é grande e que, se a teoria estiver correta e nada for feito para salvar a floresta, os danos à produção agrícola no sul devem ser muito maiores. “Já podemos dizer que o sistema de precipitação e produção é muito mais vulnerável do que imaginávamos”, diz Warwick.

(Thaís Ferreira)

do Blog do planeta


Nota do Chicão:

Pouco se fala do cerrado, que está sendo exterminado. Quem vive há muitas décadas em áreas do cerrado relata a diminuição da umidade e das chuvas.

No caso da Amazônia, com seus milhões de habitantes, é urgente transformar pelo menos uns 70% da floresta em reservas ecológicas e extrativista.

Uma das maiores ilusões é acreditar que os homens destruidores vão manter 80% da floresta de pé em suas propriedades.

Outro fator importante nesta notícia é política. Explico: a bancada ruralista (deputados) de norte a sul atua conjuntamente. Grande parte das leis de proteção ao meio ambiente amazônico são boicotados por deputados ruralistas do sul e sudeste do país. Um dos líderes ruralista e anti-ecológia na câmara é um deputado do PMDB de Santa Catarina (Valdir Collato, se não me engano).

Divulgar esta notícia para os agricultores do sul e sudeste é fundamental. Quebrar esta unidade é fundamental.

Eu já estabeleci diálogo com vários fazendeiros de minha convivência. Perguntando, por exemplo : qual a real importância para você se na embalagem de óleo de soja aparece o símbolo de alimento transgênico? Todos respodem: nenhuma. Aí eu completo: quando aquela senadora Kátia Abreu quer detonar com o símbolo que indica que há transgêncos nos alimentos ela está defendendo o campo ou está defendendo as grandes empresas que ficam com o grosso do lucro do agronegócio?

A reflexão ainda é a melhor forma para mudar um país. Para isto é importante o estudo, não basta somente ter informação. Ter estudo é mais importante para propiciar mais confiabilidade no que se expõem.

Lembrem: o que muda o mundo são idéias, bem embasadas e bem focadas.



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Um comentário:

Joel Neto disse...

Amigo, por que existem desertos muito antes de "aquecimento global" virar modar, dá para explicar?
Abraço.